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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O nada


Postagem dedicada ao meu amigo Fernando Duran.


Falar sobre o sentido da vida, e o rumo que ela toma e todos os porquês, realmente é complicado. Sobretudo quando você se dá conta de que está jogado no mundo completamente nu, desprovido de recursos e sem um caminho certo a seguir. O que fazer quando você se depara com a angústia?

Já cansei de escrever inúmeros textos falando sobre aquela coisa na qual não conseguimos nomear e da sensação que ela nos causa. Na verdade, ela é a própria sensação, que vem sempre quando estudamos um quadro que nos faz ficar de olhos arregalados, ou uma música que mexe com o nosso lado sentimental e que muitas vezes choramos ou sorrimos sem saber os motivos, ou aquela paisagem que faz nosso coração bater mais rápido, e o mais intrigante de todos os sintomas: quando, por algum motivo já citado dentre tantos outros, um aperto esmagador surge dentro de nós, e não sabemos ao certo onde ele se localiza, ou mesmo se vem de fora ou parte de nós mesmos.

Até agora, só consigo pensar em uma possibilidade da causa desse indizível que nos cerca: a Angústia. Perceba que a angústia é como um buraco, um vazio, uma lacuna dentro de nós, na qual passamos a vida procurando uma forma de completar essa falha, seja moral ou imoral, não importa. Procuramos tapar esse buraco com vícios, manias, gozo, todos os tipos de mecanismos de defesa que possamos criar, e até mesmo exteriorizando nossa parcela de culpa em tudo isso.

Temos também a possibilidade – não escolha – de procurarmos formas mais virtuosas de tapar as lacunas, como por exemplo: apreciar ou até mesmo compor uma música, nos dedicarmos à leituras agradáveis, conhecer novos lugares, prestar serviços, escrever etc. Mas porque temos a possibilidade e não a escolha de fazermos todas essas coisas? Simplesmente pela nossa condição de seres jogados no mundo, com uma falsa sensação de liberdade e escolha, sem ao menos nos darmos conta de que todos os caminhos que temos a seguir nos são dados, e não conquistados.

É triste encarar a vida dessa forma? Talvez. Porém, perceba como é importante para o ser humano admitir sua condição de prisioneiro, pois, assim podemos exercer nossa “pseudo- liberdade” dentro de todo esse sistema, uma vez que tenhamos realmente entendido como ele funciona. Certa vez, um desses loucos que cospem fogo no ar disse que o Homem só começa a viver quando se dá conta da morte. Interessante, já que uma vez tomada a consciência da morte, metade do buraco foi tapado. Mas e o resto?

...

Nossa busca por um chão acaba muitas vezes em ódio, e ainda assim precisamos de uma carga sentimentalista para continuar de pé, tentando de toda maneira conceituar o tal do amor, da esperança, da humildade, da amizade, do respeito, da compaixão (...), talvez numa tentativa desesperada de mascara – tapar – o buraco que faz parte da gente. Isso acaba causando uma não-aceitação de nós mesmos, levando a uma auto-inadequação, seja ela física, mental ou espiritual. Se a aceitação e o conhecimento de si próprio for mesmo sinônimo de virtude, os porcos se tornam mais virtuosos do que nós, já que são porcos e agem como porcos.

Isso me lembra de outro profeta, que certa vez no meio de seus escritos proferiu: “O grande problema do Homem é pensar...”.

Não importa o quanto eu escrever aqui, meu buraco nunca será tapado, e terei de continuar a minha busca por novas manhas de disfarçar o que está – ou o contrário – dentro de mim. Porém, enquanto eu possuir a sensibilidade para poder perceber o toque do inominável em mim, continuarei de pé, me apoiando sempre na eterna pergunta: “Quem somos nós?”